127 Horas ou O Retorno de Saturno
Astrologicamente existem, na face adulta do ser humano, pelo menos quatro momentos importantes na vida: O primeiro Retorno de Saturno, a Quadratura de Plutão, a Quadratura de Netuno e segundo Retorno de Saturno. Todos eles servem, a seu modo, para transformar e fazer a pessoa evoluir no seu projeto de vida. Algumas pessoas aceitam com mais facilidade, outras não. Para alguns os acontecimentos desses períodos são mais marcantes que para outros, enfim muito depende do mapa astral de cada um.
127 Horas conta um desses momentos na vida de Aron Ralston, um jovem quem em abril de 2003 partiu em uma caminhada exploratória pelo Blue John Canyon, no estado de Utah, sem se preocupar em avisar a ninguém para onde estava indo. Conclusão, o rapaz se meteu numa encrenca danada quando uma pedra se deslocou durante uma de suas descidas, prendendo seu braço. Preso no meio do nada, Aron só tinha uma esperança de sobreviver, encontrar uma maneira de se libertar sozinho daquela pedra. Ele começa viver, portanto, o seu primeiro Retorno de Saturno.
Em primeiro lugar para ter exatidão do processo vivido por ele seria necessário conhecer o seu mapa astral, como não tenho o horário de seu nascimento detenho-me apenas ao aspecto em si.
O primeiro Retorno de Saturno acontece para todos os seres humanos entre os 27 e 29 anos, é um período onde devemos colocar em prática tudo o que obtivermos, até então, de conhecimento, de informação etc. para avançar ou alavancar nosso projeto de vida. É o período em que amadurecemos; eu o chamo de “A brincadeira acabou, vamos para a vida”. Sentimos um peso maior nas atitudes, mais responsabilidade e principalmente uma cobrança maior interna e externa.
Geralmente os fatos mais marcantes desse período têm a perda como principal característica. Grandes ou pequenas o fato é que sempre perdemos alguma coisa, nem que seja somente a ingenuidade. Uma analogia que sempre faço desse período é como se sentássemos com Deus, ou o Arquiteto da nossa vida, para uma avaliação. Você está pronto para seguir adiante? É a pergunta que deve ser respondia.
Aron precisou de cinco dias para responder.
O filme é eficiente porque nos coloca perto dele o tempo todo, sentimos sua angústia, sua preocupação, seu desespero, sua insegurança, seu medo. Por outro lado contrasta com profunda exatidão a imensidão do vazio que ele encontra, ou para viver está experiência. Existem momentos impressionantes que retratam inspiradamente a sua relação com o momento que está vivendo como aquele do apresentador de TV ou mesmo a invasão da chuva.
James Franco consegue carregar bem o personagem desde o início quando percebemos sua paixão pela aventura e a vida ao ar livre; repare sua a empolgação ao apresentar o lago às novas amigas ou simplesmente ao passar as mãos carinhosamente pelas rochas do canyon. Ao mesmo tempo, esta sua impulsividade cede espaço ao raciocínio lógico à medida que ele compreende a seriedade da situação na qual se encontra, buscando traçar diferentes estratégias a fim de se libertar da rocha enquanto avalia quanto tempo que lhe resta antes que a água chegue ao fim. Da mesma forma, Franco retrata o enfraquecimento de seu personagem com talento e é tocante perceber que, mesmo constatando estar à beira da morte, Ralston jamais parece desistir completamente, mostrando-se também sempre preocupado com o impacto que tudo aquilo provocará em sua família.
É então que chegamos ao momento derradeiro onde ele percebe que precisa tomar uma atitude dolorosa para continuar sua vida. E o filme brilha ainda mais quando lhe é apresenta a visão futura, que em astrologia chamo de “A Benção de Netuno”, para que ele enfrente o medo e a dor a fim de continuar sua trajetória. Afinal não dá para ter a mesma vida ou ser a mesma pessoa depois de uma experiência assim, é certo também que a recompensa por encarar e vencer “Saturno” não seria pequena.
Daí para frente tudo nos é apresentado sem ressalvas ou concessões, como tem que ser com Saturno, e mais uma vez o filme acerta, temos, sim, que ver, sentir e escutar a dor. Para finalmente depois ver, sentir e escutar o alívio, a felicidade e pensar: “Valeu a pena”.
Como disse no início cada um tem o seu Retorno de Saturno, uns mais leves outros pesados, com poucas ou grandes perdas, mais fácies ou mais difíceis, não importa. O que vale mesmo é que saiamos dele melhores, mais confiantes no que somos e principalmente no que queremos, pois somente assim conseguiremos avançar mais facilmente neste fascinante jogo da vida.
Ficha Técnica:
127 Horas (2010)
Dirigido por Danny Boyle. Com: James Franco, Kate Mara, Amber Tamblyn, Treat Williams, John Lawrence, Kate Burton, Clémence Poésy, Aron Ralston, Jessica Ralston.
Cotação: *****